As estudantes Kátia Fonseca (esquerda) e Andressa Araújo,
que organizam a mostra na UnB (Foto: Paulo Pimenta)
Estudantes do curso de museologia da Universidade de
Brasília (UnB) lançam em novembro uma exposição que aborda o fim dos
relacionamentos amorosos. O projeto, batizado de “E não foram felizes para
sempre”, reúne cartas de amor, ingressos de shows, ursos de pelúcia e até
roupas íntimas, que foram doadas para o acervo.
Em menos de duas semanas, cerca de 200 objetos foram
deixados no local. “A gente não imaginou que fosse chegar a essa dimensão”,
disse uma das organizadoras do projeto, a estudante Kátia Fonseca, de 21 anos.
O grupo se espelhou no Museum of Broken Relationships, da
Croácia, para lançar o projeto na UnB. Idealizado por um casal de ex-namorados,
o museu croata coleciona histórias de finais felizes ou nem tanto – a depender
do ponto de vista.
No acervo em Brasília, todos os objetos simbolizam o
término de um relacionamento. Entre os itens mais entregues estão cartas
trocadas entre casais. Alianças, ursinhos, fotografias e desenhos reforçam o
grupo de “peças-clichês” dos relacionamentos amorosos.
Nunca fomos perfeitos. O amor se encontrou nos nossos
erros e acertos. Sempre haverá a primeira de muitas memórias e
experiências"
Trecho de carta que integra acervo de mostra sobre fim de
relacionamentos que será aberta em novembro, na UnB
Peças “exóticas” também revelam histórias divertidas,
como a de uma cueca que um rapaz usava no dia em que teve a primeira relação
sexual com a namorada. Desde que a menina ganhou o presente, a roupa íntima não
foi lavada. A peça foi doada ao museu pela garota.
O acervo ainda conta com óculos 3D furtados de um cinema
no primeiro encontro de um casal, uma corda com um nó de escoteiro,
significando fidelidade, um origami completo – presente dado pela namorada – e
um pela metade, que o namorado não conseguiu terminar antes do fim do
relacionamento. “O objeto pela metade concretiza nossa idéia de que não foram
felizes para sempre”, disse Kátia.
Anexado a uma das fotografias emprestadas ao museu estava
um bilhete que dizia: “Nunca fomos perfeitos. O amor se encontrou nos nossos
erros e acertos. Sempre haverá a primeira de muitas memórias e experiências.” O
recado continuava com o “Soneto da Fidelidade”, de Vinicius de Moraes.
Origami concluído (esquerda) e outro que não foi
acabado devido ao fim do relacionamento do casal de namorados (Foto: Paulo
Pimenta)
Palestras
Além do que será exposto, os alunos pretendem criar um ciclo de palestras com psicólogos, filósofos e escritores que trabalhem com a temática. Eles ainda querem expandir o acervo para objetos mais exóticos e eróticos.
Além do que será exposto, os alunos pretendem criar um ciclo de palestras com psicólogos, filósofos e escritores que trabalhem com a temática. Eles ainda querem expandir o acervo para objetos mais exóticos e eróticos.
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“Muita gente passa
no estande e acha só é para doar cartas, ursinhos, e coisas esteticamente
bonitas. Mas não, nós queremos objetos que tenham histórias. Além do acervo ser
fruto dos sentimentos das pessoas, a gente quer provocar sentimentos e reações
emocionais nas pessoas também”, declarou Kátia.
“Museu não precisa ser aquela coisa chata, pode ser algo divertido também. Eu reparei que no Brasil a gente ainda está construindo a forma tradicional de museus enquanto fora do Brasil, como eles já têm concretizado esses modelos, eles estão buscando novas formas”, afirmou Andressa Araújo, de 21 anos, que também trabalha na organização da mostra.
“Museu não precisa ser aquela coisa chata, pode ser algo divertido também. Eu reparei que no Brasil a gente ainda está construindo a forma tradicional de museus enquanto fora do Brasil, como eles já têm concretizado esses modelos, eles estão buscando novas formas”, afirmou Andressa Araújo, de 21 anos, que também trabalha na organização da mostra.
Não era lixo
A estudante Stela de Lemos, de 21 anos, foi a primeira pessoa a entregar objetos para a exposição. Ela, que doou três alianças, três folhas de caderno e três desenhos, dois cartões e uma conversa de bate-papo na internet, afirma que “queria dar um fim mais digno que o lixo a coisas que representaram sentimentos tão bonitos.”
A estudante Stela de Lemos, de 21 anos, foi a primeira pessoa a entregar objetos para a exposição. Ela, que doou três alianças, três folhas de caderno e três desenhos, dois cartões e uma conversa de bate-papo na internet, afirma que “queria dar um fim mais digno que o lixo a coisas que representaram sentimentos tão bonitos.”
Peças doadas por casais que terminaram relacionamentos
e que serão expostas na UnB (Foto: Paulo Pimenta)
O ex-namorado foi avisado por ela de que um desenho feito
por ele seria doado. A estudante conta que ele não viu problemas em relação a
isso. No meio das coisas guardadas Stela achou uma declaração de amor que
recebeu de um menino aos 10 anos de idade. Ela também foi doada para a
exposição.
“Até pensei em avisar o menino da declaração de amor que iria cedê-la para a mostra, mas entrei no Facebook dele e vi que ele tava namorando. Acho que não pegaria bem”, afirmou.
“Até pensei em avisar o menino da declaração de amor que iria cedê-la para a mostra, mas entrei no Facebook dele e vi que ele tava namorando. Acho que não pegaria bem”, afirmou.
Mas disponibilizar as peças para o acervo nem sempre é
fácil. Andressa conta que há casais que doam os itens juntos, mas também
existem pessoas que vão ao estande ainda com muitas mágoas e rancor.
“A gente serve como psicólogo. Tem gente que conta toda a história, conta que está sofrendo, o que está sentindo. Gente que chora ou então faz a gente chorar.”
“A gente serve como psicólogo. Tem gente que conta toda a história, conta que está sofrendo, o que está sentindo. Gente que chora ou então faz a gente chorar.”